quarta-feira, 20 de julho de 2022

Marte 'pertinho' da Lua: veja como observar conjunção desta madrugada

 Marte 'pertinho' da Lua: veja como observar conjunção desta madrugada 

Conjunção da Lua e Saturno, no ano passado Imagem: Cedric Allier/Flickr 

Para finalizar o combo de belos fenômenos no céu de julho, chegou a vez de Marte ficar "pertinho" da Lua na madrugada de hoje (20) para quinta-feira (21). A partir das 2h da madrugada, o planeta vermelho poderá ser visto logo abaixo da Lua, como uma estrela avermelhada de brilho fixo. Basta olhar para o leste (mesma direção onde nasce o Sol) — se o seu horizonte tiver obstáculos, terá de esperar eles subirem mais um pouco para conseguir enxergar.

O que deixa a cena ainda mais graciosa é a Lua na fase minguante, parecendo um sorriso. O par poderá ser visto juntinho até o amanhecer, cruzando o céu até o outro lado. Alinhamento planetário Aproveitando a noite de observação, repare também em um interessante alinhamento planetário. Se seguir o olhar mais para cima de Marte, lá estarão Júpiter e, depois, Saturno — nesta mesma ordem em que ficam ao redor do Sol. Apesar de não estarem tão próximos, os corpos formarão uma linha reta, alinhados pelo céu. 



Simulação do céu de São Paulo, às 2h de 21/7, com a Lua minguante em conjunção com Marte; Júpiter e Saturno estão alinhados acima Imagem: Stellarium.

Se tiver alguma dificuldade em localizar os objetos, um app de observação astronômica, (como Stellarium, Star Walk, Star Chart, Sky Safari ou SkyView) pode ajudar. Com um binóculo, telescópio ou câmera com teleobjetiva (lente zoom), é possível enxergar mais detalhes, como crateras da Lua, e fazer belos registros dos encontros. Ambos os fenômenos são visíveis de qualquer ponto do Brasil, a olho nu, sem necessidade de qualquer equipamento especial. Basta o céu estar limpo. O que é uma conjunção? Conjunção é o termo astronômico para quando dois ou mais corpos celestes (planetas, Lua, sol) aparecem bem próximos no céu. Essa proximidade é aparente, devido às suas órbitas em relação a um determinado ponto de vista — no caso, o da Terra. Não quer dizer que eles estejam de fato perto; continuam separados por milhões de quilômetros no espaço. No caso da conjunção desta madrugada, a Lua e Marte são, de fato, os dois corpos mais próximos do Sistema Solar — mas também estão bem longe. As conjunções mais comuns e apreciadas são aquelas entre a Lua e os planetas mais brilhantes (Vênus, Mercúrio, Marte, Júpiter e Saturno). Ela pode até compor um triângulo ou linha reta com dois ou mais planetas — como o grande alinhamento que vimos em junho.

Marcella Duarte 

domingo, 17 de julho de 2022

Cine Bike no CCBB alia cinema, ciclismo e discussões sobre mobilidade

Evento no CCBB, o Cine Bike alia cinema, aprendizado de ciclismo e discussões sobre a mobilidade urbana e a importância de inserir a bicicleta como meio de transporte urbano 

Ricardo Daehn


Animação 'As bicicletas de Belleville' -  (crédito:  CCBB/Divulgação)

Animação 'As bicicletas de Belleville' - (crédito: CCBB/Divulgação)

Selecionado para a mostra de cinema Cine Bike, repleta de ações paralelas de cidadania, o curta-metragem Circulando pelo enquadramento (1988), estrelado por Tilda Swinton, é dos títulos que sintetiza o intuito do evento promovido pelo CCBB: provocar a reflexão sobre os vícios da mobilidade urbana e estimular rupturas no dia a dia agitado. O filme criado por Cynthia Beatt mostra paisagens do Muro de Berlim, feitas no movimento de bicicletas, instigando o fim de circuitos de imobilidade e estagnação. Impensadas mudanças, um ano após a produção, viriam a derrubar a realidade, desde 1961, imposta pelo Muro de Berlim. Na base da conscientização, o Cine Bike pretende difundir aspectos da boa prática do ciclismo.

Oficinas, praça de food-bikes e demandas ambientais entram em pauta, no evento que transcorre entre 19 e 30 de julho. Um passeio ciclístico, dia 30 de julho, a partir das 9h, e que contará com apoio do Detran, levará os amantes das bikes a pedalarem por seis quilômetros, partindo do CCBB e retornando, com direito à participação em festa julina. Hábitos saudáveis, incentivo à sustentabilidade e diversão com filmes de várias épocas, selecionadas na produção de oito países, estão no Cine Bike. A abertura (às 19h30) trará o longa-metragem português A alma de um ciclista (de Nuno Tavares) e, ainda, um curta histórico, O menino e a bicicleta, que deflagrou, em 1965, a premiada carreira de Ridley Scott (Blade Runner). O acesso é livre para a mostra de filmes, a partir da retirada antecipada de ingressos. No dia 20, às 20h, o destaque será Bikes vs. carros, filme sueco de 2015, assinado por Fredrik Gertten, que debate a influência da indústria automobilística em fatores como poluição e aquecimento global.

Com curadoria do professor e crítico Sérgio Moriconi, Cine Bike trará painéis com especialistas que enfatizarão Os avanços dos planos de mobilidade urbana no Brasil (no dia 21) e ainda vão tratar do tema Ruas e cidades humanizadas — Slowmovement (previsto para dia 28). Atividades educativas e demonstrações práticas de reparos em bicicletas ganharão contornos divertidos, com apresentações de repentista e mímicos. No próximo domingo, entre 10h e 12h, a autora Josi Paz lançará o livro Pedalar é suave.

A visão humanista de  Ladrões de bicicleta está presente na mostra
A visão humanista de Ladrões de bicicleta está presente na mostra(foto: CCBB/Divulgação)

Longas consagrados de cineastas reconhecidos como os irmãos belga Luc e Jean-Pierre Dardenne, caso de O garoto da bicicleta (2011), estarão na programação, que aposta em clássicos como o primeiro filme de François Truffaut (o curta Os pivetes, de 1957), e ainda no italiano vencedor do Oscar como melhor filme internacional, Ladrões de bicicleta, (1948), exemplar neorrealista de Vittorio de Sica que, com relevo humanista, associava trabalho no pós-guerra com injustiça social. No sábado, dia 23, a partir das 16h, uma tela especial exibirá filmes como Pedalando com Molly (animação britânica de 2021) e Escola de carteiros (1947), filme eternizado pela criatividade de Jacques Tati (o mesmo de Carrossel da esperança, de 1949, também na programação do evento), centrado na modernização do serviço postal da época, a partir dos esforços de um distraído carteiro francês. O evento oferece, também, treinamentos para o aprendizado de iniciantes no projeto Pedalando com a Bike Anjo, numa ação que reacende a memória do sociólogo e ativista Raul Aragão, morto em 2017.

Com exibição no dia 23 (às 15h30) o curta brasiliense Lulu vai de bike (de Edson Fogaça) presta tributo ao biólogo Pedro Davidson, morto em 2006, em circunstâncias que, por meio da lei 13.508/2017, levaram à instituição do Dia Nacional do Ciclista. Filha de Pedro, Luisa participa da produção, que teve por cenário o Eixão Sul. Brasília igualmente abriga a trama de catadores-ciclistas, projetada no longa de Carol Matias No rastro das cargueiras (atração do dia 21, às 18h).

Com parte de eventos on-line, Cine Bike trará cinco filmes (com acesso disponibilizado por 24 horas, em: www.cinebikebrasil.com.br). Na lista, há o inclusivo Todos os corpos na bike; Explorando as ruas de Estocolmo, com o impacto de um projeto que, no emprego de transportes alternativos, pretende zerar mortes por acidentes. E, ainda, O porta-voz, filme australiano em torno de uma espécie de museu vivo de bicicletas de todas as eras. Uma das melhores experiências cinematográficas está marcada para o dia 24, às 18h30, em um telão montado no CCBB, no qual será projetado As bicicletas de Belleville, animação de 2004 criada por Sylvain Chomet, e que, em meio a enredo que faz uso da competição batizada Tour de France, vem pontuado por gags e tons críticos.

Cena do filme Lulu  vai de bike, tributo ao ciclista brasiliense  Pedro Davidson
Cena do filme Lulu vai de bike, tributo ao ciclista brasiliense Pedro Davidson(foto: CCBB/Divulgação)

Na leva de 35 filmes elencados para a mostra, o recente A volta em Minas, de Fernando Biagioni, revela os frutos de uma jornada de 14 dias, dos extremos de Minas Gerais, unidos ao longo de 1500 quilômetros perfeitos e que proporcionam situações de freio ao consumismo exagerado e o acirrar de amizades, temas comuns ainda a Mama Agatha (de Fado Hindash). Nessa fita, há exame da dedicação de uma ganense na formação de migrantes e refugiadas do sul de Amsterdã, que ingressam no mundo das pedaladas. Outro destaque na mostra, o média-metragem A rainha bicicleta (2013) revela passos de democratização e a importância, na segunda revolução industrial, do movimento das bikes, entre franceses, num panorama que contempla período entre 1890 e a época atual.

Entrevista com Sérgio Moriconi, curador da mostra

No exterior há circuito consolidado similar aos temas do Cine Bike? O que fomenta a adoção do ciclismo na capital?

Existem festivais similares no mundo, e em Brasília, fomos pioneiros, o que não deixa de ser surpreendente. Brasília é singular em relação ao tema. Pela própria geografia plana, e há o favorecimento pelo clima da cidade. Temos períodos enormes não chuvosos. Há favorecimento de as pessoas irem para o trabalho de bicicleta, sob temperaturas frescas. Notamos muitas características, ao se caminhar domingo, no Eixão. Há quantidade de coletivos de bike e há grupos que se reúnem para passeios como a volta ao Lago Paranoá. No Parque da cidade há quantidade enorme de ciclistas. Houve, nos últimos anos, incremento muito expressivo nas ciclovias que, claro, podem ser melhoradas.

Sergio  Moriconi
Sergio Moriconi(foto: Zuleika de Souza/CB/D.A Press)

Os filmes têm teor educativo?

Em teor secundário, são educativos. Mas exploramos questões sobre as formas do ciclismo, do competitivo à inserção da mobilidade urbana. É um tema premente no mundo inteiro. David Byrne, que redescobriu Tom Zé, escreveu o livro Diários de bicicleta. Nele, mostra como andou de bicicleta em várias capitais do mundo e mostra como que é fundamental que as megalópoles, hostis à bicicleta e ao pedestre, injetem preocupação com políticas de mobilidade urbana. No livro, ele demonstra que, quanto mais auto-estradas e vias se constroem nas cidades, mais carros passam a circular, provocando ainda maiores engarrafamentos do que anteriormente.

Há inovações surpreendentes, no exame dos filmes, e o que tornam eternos os clássicos listados?

Na leva dos clássicos, um exemplo está em O garoto e a bicicleta, o primeiro filme do Ridley Scott, feito ainda na escola, em Londres. O filme traz o aspecto do flâneur, que circula, observando a cidade e meditando sobre a vida. O garoto mata um dia de aula e sai para os lugares dos quais gosta, refletindo sobre a vida dele. Os pivetes, do Truffaut, traz muitos elementos da Nouvelle Vague, e este filme a inaugura, de certo modo. Cuidamos de trazer títulos que demarquem a associação com o cinema mesmo. Isso além das temáticas levantadas sobre mobilidade urbana, sustentabilidade e mudança de matriz energética no mundo. A mudança de matrizes fósseis para matrizes não fósseis. Nos filmes do Jacques Tati, a bicicleta, no centro, favorece o convívio social entre as pessoas, ao proporcionar um modo de vida mais lento que otimiza interações sociais. O evento ainda abrange aspectos de inclusão, em filmes como O Sonho de Wadja, que mostra uma menina na Arábia Saudita, onde é vedado às mulheres andar de bicicleta, apaixonada por uma bicicleta. Nisso ficam evidentes preconceitos relacionados às mulheres.

  • Animação As bicicletas de Belleville
    Animação As bicicletas de BellevilleFoto: CCBB/Divulgação
  • A visão humanista de 
Ladrões de bicicleta está presente na mostra
    A visão humanista de Ladrões de bicicleta está presente na mostraFoto: CCBB/Divulgação
  • Cena do filme Lulu 
vai de bike, tributo ao ciclista brasiliense  Pedro Davidson
    Cena do filme Lulu vai de bike, tributo ao ciclista brasiliense Pedro DavidsonFoto: CCBB/Divulgação
  • Sergio 
Moriconi
    Sergio MoriconiFoto: Zuleika de Souza/CB/D.A Press

terça-feira, 5 de julho de 2022

Por que as pesquisas de opinião mostram distâncias diferentes entre Lula e ? Entenda

 

Pulso

O ritmo da opinião pública

Por Marlen Couto — Rio de Janeiro

 

Por que as pesquisas de opinião mostram distâncias diferentes entre Lula e Bolsonaro? Entenda
Preparação das urnas eletrônicas em 2020 

As pesquisas de intenção de voto feitas por institutos e empresas da área são unânimes em apontar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente na disputa pelo Planalto, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). A vantagem do petista, no entanto, varia, a depender do levantamento, a ponto de essa divergência ter impacto na avaliação sobre se há ou não indicativo de uma vitória de Lula já no primeiro turno. E as pré-campanhas de ambos exploram politicamente essas discrepâncias.

    Uma das explicações para as diferenças nos percentuais de intenção de voto passa pelo modo de fazer as pesquisas, se com entrevistas presenciais (em domicílios ou em pontos de fluxo de pessoas) ou por meio do telefone, afirmam especialistas e dirigentes de empresas do setor ouvidos pelo Pulso. Isso porque o método usado para cada pesquisa tem impacto sobre a amostra (quem é ouvido ou não) e nas interferências possíveis no contato entre entrevistador e entrevistado.

    Como em qualquer experimento, pesquisas de opinião são suscetíveis a fatores internos e externos que podem provocar diferenças em seus resultados. Seja em uma palavra diferente da outra na formulação da pergunta ou a empatia transmitida por um entrevistador face a face ou via voz por telefone.

    Levantamentos divulgados em junho exemplificam as diferenças nos resultados obtidos. As pesquisas Datafolha e Genial/Quaest, que são face a face, apontam Lula com 19 e 16 pontos percentuais, respectivamente, à frente de Bolsonaro no primeiro turno, considerando a pesquisa estimulada, na qual as opções de candidatos são apresentadas. Já os levantamentos Ipespe e Exame/Ideia, feitos por contato telefônico, mostram distância menor, de 11 e 9 pontos percentuais, respectivamente. Os resultados são divergentes nos índices de intenções de voto de Bolsonaro, enquanto os de Lula variam dentro das margens de erro.

    Diferenças nos resultados de pesquisas — Foto: Arte / O Globo

    Diferenças nos resultados de pesquisas — Foto: Arte / O Globo

    E qual das pesquisas está certa? Não haverá resposta final e precisa, e o importante é observar as tendências entendendo melhor como cada uma é feita. A chave para iniciar esse debate está no perfil de renda dos eleitores. Defensores do modo de pesquisa presencial afirmam que, apesar do fato de oito em cada dez brasileiros terem um aparelho celular, segundo dados do IBGE, a disponibilidade para atender o telefone não é a mesma entre a população de menor renda. Mais de 93% dos domicílios tinham ao menos um celular no fim de 2019. Além disso, ressaltam que não existe um cadastro oficial de telefones no país. Diferentemente dos Estados Unidos, onde pesquisas telefônicas são amplamente usadas, o mercado americano é mais maduro no uso de telefones de forma universal.

    Por outro lado, as pesquisas presenciais, na avaliação de seus críticos, teriam mais dificuldade de entrevistar eleitores com mais renda, que costumam viver em condomínios fechados por portarias e seguranças em cidades cada vez mais vigiadas e circulam menos a pé nas ruas. Pesquisadores face a face também teriam menos acesso a áreas das cidades controladas pelo crime organizado.

    O presidente do conselho científico do Ipespe, Antonio Lavareda, defende que as desvantagens apontadas para as pesquisas telefônicas não procedem e lembra que o método presencial não é mais usado em países da Europa e dos Estados Unidos. Ele também alerta que a diferença nos resultados entre os institutos se limita às intenções de voto em Bolsonaro na pesquisa estimulada.

    — Uma pequena parcela não tem acesso à telefonia celular. Esse grupo é no mínimo igual, ou até menor, que o da população que não é acessível em condomínios de classe média e alta e em áreas controladas pelo tráfico. A vantagem de maior acesso na pesquisa presencial não existe. Além disso, não dá para colocar todas as telefônicas no mesmo grupo. Em todo levantamento sem o recall da eleição passada (em que é perguntado ao eleitor em que ele votou em 2018), há forte indicação de pesquisa fake ou com amostra distorcida — conclui.

    Diretora do Datafolha, Luciana Chong rebate o argumento de que as pesquisas presenciais são impactadas pelas dificuldades de acesso a segmentos da população:

    — O Datafolha realiza as pesquisas em pontos de fluxo populacional, os pontos de fluxo não ficam, necessariamente, em locais com grande fluxo como saída de estações do metrô ou grandes avenidas. Os pontos estão localizados nos bairros, próximos ao comércio local. A dificuldade na abordagem existe para as classes mais altas e mais baixas também (moradores de comunidades, por exemplo) e considero que essa abordagem consegue atingir todas as classes.

    Luciana Chong levanta ainda outras explicações para a discrepância na distância entre Lula e Bolsonaro nas pesquisas presenciais e telefônicas:

    — Existem outros fatores, como a distribuição e o perfil da amostra. O Datafolha utiliza cotas apenas para gênero e idade. Os outros dados sociodemográficos são resultados da pesquisa. Não existem dados oficiais atualizados para escolaridade e renda dos eleitores. Fazemos um acompanhamento dessas e outras variáveis para garantir que a amostra represente o universo pesquisado. Também precisam ser levadas em consideração as diferentes formulações das perguntas e as datas de realização de cada pesquisa.

    Felipe Nunes, CEO da Quaest e que faz pesquisas presenciais mensais, vê vantagens e desvantagens em cada método, mas explica que sua empresa optou por considerar o que melhor contempla a faixa com menor renda, que têm maior peso na população brasileira:

    — O eleitor de Bolsonaro tende a ter renda mais alta, e a pesquisa telefônica tende a falar mais com esse público. Já o de Lula tende a falar mais na pesquisa face a face. É preciso entender que há vantagens e desvantagens em cada método. O importante é fazer uma ponderação que reduza os erros produzidos por cada abordagem. Fazemos a amostra domiciliar face a face porque a escolha passou por ouvir o eleitor que tende a ter mais participação no resultado da eleição, que é a população de renda mais baixa. Além disso, acompanhamos variáveis que funcionam como benchmarks (ou seja, como indicadores para medir a qualidade da pesquisa), como o percentual de vacinação e o voto em 2018.

    Apresentação dos candidatos

    Outro aspecto a ser considerado diz respeito ao contato entre entrevistadores e entrevistados. Na pesquisa presencial, é apresentado um cartão de resposta com o cardápio de candidatos, em geral em formato circular, com o objetivo de garantir uma exposição de todas as candidaturas sem interferências para captar o voto estimulado. Na telefônica, o entrevistador lê os nomes dos candidatos em ordem previamente definida pelo computador.

    — Avaliamos que para intenção de voto a abordagem presencial é a melhor. Na abordagem telefônica, é preciso que o pesquisador leia a lista inteira com os nomes dos candidatos, uma dificuldade para quem está respondendo a entrevista. O cartão circular é o melhor instrumento. O pesquisador é instruído a ler os nomes do cartão quando o entrevistado tem alguma dificuldade e solicita ajuda — acrescenta Chong.

    Já Lavareda, do Ipespe, enfatiza que há dificuldade de leitura no cartão circular:

    — Os nomes e mais as alternativas branco e nulo comprimidos num cartão circular geram muita dificuldade para a leitura. As pessoas estão acostumadas a ler o texto horizontalmente, e não diagonalmente. Além das pessoas com deficiência visual, há um contingente de eleitores analfabetos.

    Exemplo de cartão com lista de candidatos usado em pequisas presenciais — Foto: Reprodução

    Exemplo de cartão com lista de candidatos usado em pequisas presenciais — Foto: Reprodução

    Uma outra hipótese defendida por Lavareda para as diferenças nos resultados das pesquisas é a possibilidade de existir um "voto envergonhado" em Bolsonaro, especialmente nas camadas com menor renda. Fenômeno semelhante foi observado por pesquisadores na eleição americana em relação à candidatura de Donald Turmp.

    — Nesse hipótese, se você é minoritário num determinado grupo social, tem dificuldades para expressar sua opinião publicamente e a oculta. Esse comportamento seria mais fácil de ocorrer numa pesquisa presencial em que há um eleitor frente a frente com o entrevistador, num meio público, com pessoas circulando. É possível que haja uma espiral do silêncio entre bolsonaristas. Na telefônica, você tem a privacidade mais protegida. Em geral, por exemplo, a avaliação de governo como regular aparece maior na presencial e menor na telefônica — pontua Lavareda.

    Luciana Chong, do Datafolha, discorda:

    — Não temos esse indício e considero que isso poderia acontecer em relação ao voto em Lula também.