sábado, 8 de outubro de 2011

Arquivos da Brasilíada


Correio conta os desafios da construção de Brasília

Publicação: 08/10/2011 09:17 Atualização:


Em nenhuma outra obra de Brasília se exigiu mais dos operários brasileiros do que nos onze primeiros ministérios e nas duas torres do Congresso Nacional. A estrutura metálica era uma tecnologia desconhecida até mesmo para engenheiros e arquitetos brasileiros da época. O peão de obra que deixou a enxada para se pendurar em esqueletos de ferro arriscou a vida e conseguiu montar, com rebites incandescentes lançados de baixo para cima e pegos no ar, o quebra-cabeças que sustenta os ministérios e o Anexo I do Congresso.

A construção do dominó verde da Esplanada foi possível a partir de um desastrado contrato da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) com uma empreiteira. A barafunda começou com um pedido de empréstimo de 10 milhões de dólares pedido ao Export-Import Bank, no fim de 1956. A contrapartida, segundo se comentava à época, era que o Brasil contratasse uma empresa norte-americana para participar da construção de Brasília. “Americano não dá ponto sem nó”, traduziu o engenheiro Cláudio Sant’Anna, um dos muitos a sugerir que o empréstimo havia sido uma operação casada.

Menos de um ano depois da concessão do empréstimo, a Novacap assinou contrato com a Raymond Concrete Pile Company, para o fornecimento e a montagem das estruturas metálicas de 16 ministérios, da barragem do Lago Paranoá e das duas torres do Congresso Nacional. A Raymond faria a obra e a Novacap, a fiscalização. No contrato assinado em novembro de 1957, foi fixado o prazo de quatro meses para a montagem das estruturas do primeiro ministério e, daí em diante, os demais teriam de ser concluídos em oito meses, “na razão de dois prédios ao mês”, conforme revela o pesquisador Luís Carlos Lopes, em Brasília, o enigma da esfinge. Engenheiros e técnicos americanos vieram para Brasília, construíram confortáveis casas de madeira, em estilo tipicamente americano, no acampamento Tamboril, na hoje Vila Planalto, mas até meados de 1958, nem sinal de obra na área destinada aos ministérios.

Pinga e papel higiênico
Foi quando o presidente da Novacap, Israel Pinheiro, avisou aos executivos da Raymond, em carta enviada aos EUA, que o secretário de Estado John Foster Dulles, em breve visita ao Brasil, viria a Brasília para “apertar o primeiro parafuso da primeira peça das estruturas metálicas levantadas para o primeiro edifício ministerial”. Assim foi. A 6 de agosto de 1958, Dulles veio e apertou o primeiro parafuso da primeira estaca de ação do prédio destinado ao Ministério das Relações Exteriores (que só seria concluído em 1970). Poderia ser o prenúncio de que tudo correria bem dali em diante, mas não foi o que aconteceu. Com o tempo, começou-se a perceber que os norte-americanos estavam metendo os pés pelas mãos e não conseguiam avançar com a obra na rapidez necessária.

“Os americanos chegaram (ao Brasil) cheios de exigência”, conta Juca Chaves. “Queriam ar-condicionado, trouxeram geladeira, tudo o que não tínhamos nos acampamentos. Queriam que a Novacap pagasse até a roupa deles. Até o papel higiênico eles colocavam na conta.” Logo, começaram a surgir “suspeitas generalizadas de corrupção e fraude”, conta o pesquisador Luís Carlos Lopes. A Novacap, então, decidiu fazer uma auditoria na Raymond, que atuava no Brasil com o nome fantasia de Construtora Planalto (daí a Vila Planalto).

Um ano depois de iniciadas as investigações, fez-se um relatório das irregularidades: desperdício de materiais, excesso no consumo de combustível, irregularidades no departamento de compras, corrupção na compra de areia para a barragem do Lago Paranoá, irregularidades na contração de pessoal, salários muito elevados para os norte-americanos e para alguns brasileiros; falta de higiene e de estruturas sanitárias nos alojamentos e canteiros de obras, presença de varíola, alimentação de má qualidade e situações de indisciplina e agitação social.

Àquela altura, Juscelino e Israel Pinheiro sabiam que os americanos estavam pondo em risco a transferência da capital. “Por diversas vezes — escreve JK em suas memórias —, chamei a atenção dos diretores da firma (Raymond) para a necessidade de que se adaptassem ao ‘ritmo de Brasília’. Prometiam. Garantiam que o serviço seria acelerado. Asseguravam a chegada de novos técnicos e melhor equipamento. E, assim, os dias iam passando, sem que se observasse qualquer progresso na obra.” Juscelino lembra, em Por que construí Brasília, que os norte-americanos “antes do início dos trabalhos preocupavam-se exclusivamente com seu conforto pessoal (…). A noite era consumida em alegres rodadas de uísque. Nada de flama, do élan, da preocupação de bater recordes característicos do ‘espírito de Brasília.’” JK referia-se à construção da barragem, mas o comportamento dos americanos, segundo vários depoimentos de candangos ao Arquivo Público, não mudou em nenhuma das obras que lhes foram destinadas em Brasília. Até água foi servida em substituição ao café da manha, constatou a auditoria.

Cometas de fogo
Prenunciado o desastre, Israel decidiu rever o contrato com a Raymond. Foram feitas “modificações substanciais, quase uma rescisão de contrato”, escreve Luís Carlos Lopes. Os norte-americanos arrumaram as malas e só deixaram na cidade as belas casas de madeira da Vila Planalto e alguns representantes encarregados formalmente de acompanhar as obras até 31 de dezembro de 1959, quando deveriam ficar prontas. Um pool de empreiteiras brasileiras assumiu as obras e operários, que nunca haviam visto uma viga metálica, continuaram arriscando suas vidas para dar conta de concluir o serviço.

“Foi uma dificuldade muito grande”, relembra o arquiteto João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé, que veio para Brasília, recém-formado, em 1957. “Nós não tínhamos nenhuma tradição de aço, foi uma coisa incrível as empresas terminarem os ministérios após o rompimento do contrato”.

Foi um desafio extremo para os candangos. Os operários, sem nenhum equipamento de segurança, pendurados nos andares mais baixos lançavam os rebites incandescentes, para os operários que estavam mais acima. Com luvas reforçadas, eles pegavam no ar o aço em brasa e fixavam a peça nos pilares e vigas para fundi-los num só corpo estrutural.

Quando anoitecia, cometas de fogo pareciam cortar a escuridão da Esplanada. Eram os candangos lançando os rebites afogueados, construindo a nova capital e arriscando o único bem que possuíam.



quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Brasília Anos 80

Rodrigo Roal, o autor desta foto de Cássia Eller no minhocão da UnB, comentando com amigos no FB. "Que bacana Rogério, poder lembrar desses tempos divertidos. Nossa, como ela estava tão novinha... Uma coisa que me impressionou muito na Cássia, quando fiz aquela foto dela na UnB, a pedido/produção da Débora, para o material do "show de lançamento/despedida", na sala Funarte, foi a extrema timidez da Cássia... Parecida com o David Bowie na foto, né não? Abraço forte"