sexta-feira, 12 de abril de 2019





Poemas sobre Brasília

O CÉU DE BRASÍLIA

Do alto do meu chão
vejo nuvens escuras
chegando do sul
Negras, rápidas de vento.

Encontram-se com o seco de Brasília,
quente, áspero, livre azul
E sobre o lago fundem-se
nestas chuvas de março abril.

Os carros que zunem são do novo governo.
Não, São o legislativo novato
que não sabe que é sabedoria
cuidar, para não escorregar no óleo.

Das ruas quentes de sol
pingadas constantemente de óleo negro
que é falso e se vocês não sabem,
vão rodopiar se frear.

É hora do almoço, saída da escola,
chapas brancas esbarram na W3,
gente forte atravessa a rua, 
é hora de comer, está na hora.

Carros correm, colegiais sorriem,
calor escorrega pelo corpo,
brasiliense não enxerga um dedo 
à frente de seu empinado nariz.

Maria Coeli de Almeida Vasconcelos - 1983

quarta-feira, 3 de abril de 2019





Poemas sobre Brasília

APOSENTADO

Passo o dia com a Ana Maria Braga.
E vou cozinhando, lavando roupa branca,
fumando calmamente como o rito e me abrigo
neta solidão de Brasília todo dia.

Passo dia com a Ana Maria Braga.
Confidencia-me a velhinha da quadra
na banca dos jornais senadinho micro
das tardes de solidão de Brasília.

Se eram funcionários, os que nasceram de ontem para cá
teriam os oitenta anos hoje.
Professoras novas, energéticas, poderosas,
hoje murchas, vagam pela vizinhança.

Da escola, única casa de uma vida inteira
à sala do ministério onde o romance brotou
numa tarde tensa no congresso,
quando os homens vestiam fardas
nas tardes de solidão de Brasília.

Maria Coeli de Almeida Vasconcelos - 1997