m outubro de 2024, o site Heloisa Tolipan publicou uma lista com informações inéditas sobre a preservação das novelas da Globo, baseada em pesquisa do jornalista Gabriel Sarturi. Na última semana, Sarturi revelou novos dados sobre títulos considerados parcialmente perdidos, como “Brilhante”, que teria ao menos 25 capítulos preservados com áudio original e outros em versões dubladas. A pesquisa também trouxe novidades a respeito de “Champagne”, primeira novela das oito a perder em audiência para uma concorrente, que deve retornar ao projeto Fragmentos em cinco episódios
Entre os casos levantados, destacam-se ainda “Terras do Sem-Fim”, com 14 capítulos guardados, e a circulação internacional de várias novelas em versões condensadas.
O apagamento de obras ocorreu nos anos 1980 por falta de fitas, como
por Vitor Antunes
Em outubro de 2024, o site Heloisa Tolipan publicou uma lista com informações pouco conhecidas sobre a preservação das novelas da Globo, em especial aquelas com chance de retorno ao público — seja na íntegra ou em versões fragmentadas — pelo Globoplay. Grande parte desse levantamento surgiu a partir da monografia do jornalista e pesquisador Gabriel Sarturi, da Universidade Federal de Santa Maria (RS).
Na última sexta-feira, Sarturi publicou um novo artigo trazendo à tona dados inéditos sobre novelas tidas como parcialmente perdidas, mas que continuam despertando forte curiosidade entre telespectadores e colecionadores de memória televisiva. Vale lembrar que, ainda em outubro de 2024, o site noticiou que a novela “Brilhante” teria apenas 13 capítulos preservados nos arquivos da emissora. O novo estudo, contudo, indica que o número é maior e que existem chances de cópias mais completas em outros acervos da Globo, como a Globo Internacional. Segundo Sarturi, cerca de 25 capítulos de “Brilhante”, de Gilberto Braga, permanecem preservados com áudio original, enquanto outros estão disponíveis apenas em versões dubladas em italiano, francês ou espanhol.
Outra trama que voltou a gerar engajamento nas redes sociais foi “Champagne”, de Cassiano Gabus Mendes — a primeira novela das 20h a perder em audiência para uma concorrente, quando a Manchete superou a Globo durante o Carnaval de 1984. Também considerada perdida e fragmentada, a obra ganhou novas pistas com a pesquisa de Sarturi: muito provavelmente, retornará ao projeto Fragmentos em cinco episódios, havendo possibilidade de existência de mais capítulos em idiomas estrangeiros, em moldes semelhantes aos de “Brilhante”.Renata Sorrah e Dennis Carvalho eram Inácio e Leonor em “Brilhante” (Foto: Reprodução)
Brilhante e Champagne
“Brilhante” foi exibida algumas vezes no exterior. Na França, em 1985, ganhou versão condensada em 70 capítulos de 30 minutos. Já em um país de língua espanhola, foi transmitida em 155 capítulos de 40 minutos, formato mais próximo do original. No total, a novela circulou em mais de 20 países, entre eles Argélia, Bolívia, Camarões, Estados Unidos, França, Itália, Marrocos, Polônia, República Dominicana e Tunísia. Sarturi aponta que, em condições excepcionais, 25 capítulos preservam o áudio original. São sete da exibição brasileira (capítulos 1, 2, 50, 51, 52, 154 e 155) e 18 da remontagem francesa (capítulos 1 a 16, 31 e 32). Se a Globo recuperar esse material, é provável que essa seja a base para futuras exibições.
O pesquisador também destaca outro caso relevante: a novela “Terras do Sem-Fim”, exibida às 18h, que teve 14 capítulos preservados — os de número 1, 2, 45, 46 e a sequência do 81 ao 90, correspondente ao desfecho da trama. Já em relação a “Champagne”, originalmente com 167 capítulos de 40 minutos, a situação é mais delicada. O título está preservado em outro idioma, sem clareza se é possível extrair das fitas o áudio originalTony Ramos em “Champagne” (Foto: Nelson Di Rago/ Globo)
O ex-pesquisador do Vídeo Show Bruno Weikersheimer, ouvido por Sarturi, relata: “Na Globo Internacional tem uma novela, ‘Champagne’, que eu acho que só existe com o áudio em espanhol ou em italiano, uma coisa assim. Eu acho que não existe com o áudio em português, […] pelo menos na época em que a gente estava lá, falavam que não tinha o áudio verdadeiro ali […], quando eu vi tinha áudio em uma outra língua. Ou espanhol, ou italiano, ou francês. Alguma coisa assim […]. Pode ser que descubram, hoje em dia, com mais técnicas, porque eu acredito que possa existir alguma forma de recuperar o áudio original. Não sei. Mas esse material da Globo Internacional sempre foi obscuro para a gente, a gente nunca teve acesso a esse material”. Weikersheimer acrescenta que, no acervo internacional, outras novelas estão preservadas em versões integrais, ainda que sob condições específicas:
“Brilhante é uma novela que tem na Globo Internacional, por exemplo, inteira. Mas eu não sei em que condições […] Sem ser DPI são […] de 6 a 10 capítulos […]. Ela é do esquema 2 do início, 2 do meio e 2 do fim, mas não foi guardada desse jeito. Mas eu não sei se a DPI está na língua original, pode ser espanhol, […] eu nunca vi […].
No caso de “Champagne”, seis capítulos chegaram a ser localizados (1, 2, 59, 60, 166 e 167). Hoje, porém, o episódio 60 já não está mais disponível, restando oficialmente apenas cinco preservados.
Procurada pelo site, a Globo/Globoplay não se pronunciou sobre a possibilidade de retorno dessas novelas — na íntegra ou em fragmentos — ao Globoplay.Beatriz Segall em “Champagne” (Foto: Nelson di Rago/Globo)
Por que as novelas foram apagadas?
Em reportagem do site Heloisa Tolipan, publicada em outubro de 2024, encontramos uma entrevista com o ex-gerente do Arquivo de VT da Globo Edson Pimentel (1979-1982). Ele já havia explicado as razões do apagamento: “Nós tivemos um problema que me causa uma certa tristeza ainda, porque em um determinado período, a gente tinha um órgão que se chamava Cacex – Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil S.A. – que bloqueou a possibilidade de importação. Então, ao longo de um período, tivemos que apagar alguns conteúdos muito importantes, que seriam relevantes hoje, porque você precisava de fita para gravar. Então, você tinha que apagar, sacrificar conteúdos, para gravar o que precisava ir ao ar. A gente apagou. […] Foi algo muito sofrido para todos que tiveram que assinar esse documento; o Boni, na época, não tinha outra alternativa”.
Ele prossegue: “Especificamente em telenovelas, uma seleção de cerca de três dezenas de folhetins, devido às dificuldades envolvidas no processo de importação de fitas, teve o maior volume de mídias reaproveitado, mantendo dessas produções uma cota sistemática de seis capítulos, dividida em três pares: os dois capítulos iniciais, os dois capítulos intermediários e os dois capítulos finais como uma forma de preservar, pelo menos, um pouquinho da história”relacionados
Nenhum comentário:
Postar um comentário