domingo, 22 de junho de 2025

Novelas 'Não temos histórias novas há muito tempo':

Novelas
'Não temos histórias novas há muito tempo': a revelação de Walcyr Carrasco na Bienal
Filipe Pavão
22/06/2025 05h30    Walcyr Carrasco na Bienal do Livro 2025, no Rio de Janeiro Imagem: Eduardo AnizelI/Folhapress

A Bienal do Livro se rendeu às novelas e convocou autores para contar como idealizam e escrevem seus folhetins no painel Páginas na Tela: Novelas.

O que aconteceu
Walcyr Carrasco defendeu que, no fundo, nenhuma história é realmente nova. "Não temos histórias novas há muito tempo. Todas as histórias foram escritas no tempo dos xamãs e das lendas que eram contadas ao pé do fogo. E essas estruturas narrativas são as que a gente usa até hoje".

Para ilustrar seu ponto, Walcyr citou uma passagem bíblica. "A vilã clássica que eu sempre me refiro está na Bíblia, que é a mulher de Potifar. Ela se apaixona por José, o escravo da casa. Quer transar com ele, mas ele não quer porque respeita o amo. Ela rasga as roupas e grita: 'Socorro! José quis me agarrar à força'. Ele é escravizado de novo. É a mulher que se vinga do homem que não a quer. Isso está até hoje nas novelas."

"Desde aquela época já se criavam as grandes estruturas e a gente só renova. Só repete. Só conta de outro jeito. Isso não é demérito, é bonito, porque a humanidade se renova. O encontro da mãe com o filho, por exemplo, é contado mil vezes, mas sempre emociona, desde que seja bem escrito e os atores sejam bons. Isso toca o coração."

Ele também defendeu que as novelas sejam claras. "As novelas fazem as emoções fortes e até um pouco óbvias às vezes. Quanto mais claras elas são — o vermelho é vermelho —, mais tocam o público. Acredito nas estruturas antigas. E os clássicos são clássicos."

Ele afirmou ainda que um de seus maiores sucessos, "O Outro Lado do Paraíso", teve inspiração direta em um clássico da literatura: "É inspirado declaradamente em O Conde de Monte Cristo. Inclusive com cenas do Conde de Monte Cristo, um livro antigo. Outra história, mas peguei umas cenas, estruturas de personagens? Os clássicos têm sempre algo a nos oferecer."



Raphael Montes, Rosane Svartman, Alessandra Poggi e Walcyr Carrasco na Bienal do Livro 2025, no Rio de Janeiro
Imagem: Belga/www.fotoarena.com.br

O autor ainda revelou que "não é fiel às sinopses". "Ela é o começo. Dez capítulos e eu chuto o balde. Seja o que for. Depois que estreia, os personagens vão me contando como continuar. Eu chamo a sinopse de carta de boas intenções para os meus chefes"

Além de Walcyr, participaram da conversa os autores Raphael Montes (Beleza Fatal), Alessandra Poggi (Garota do Momento) e Rosane Svartman (Dona de Mim). Eles refletiram sobre a manutenção da importância da novela na cultura brasileira e no fato de atingirem milhões de pessoas diariamente. "A novela nunca morre"; decretou Raphael Montes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário