segunda-feira, 28 de abril de 2025

A maior culpada pelo fim das grandes audiências na TV Globo

  Cultura

A maior culpada pelo fim das grandes audiências na TV Globo

Consultor e doutor em Teledramaturgia na USP, Mauro Alencar fala sobre novos panoramas do mercado audiovisual

A personagem Maria de Fátima (Bella Campos) em cena da novela 'Vale Tudo' (Rede Globo/Divulgação)
Ator Cauã Reymond que interpreta o personagem "César" na novela "Vale Tudo"

  Mauro Alencar, consultor e doutor em teledramaturgia pela USP, autor de A Hollywood Brasileira – Panorama da Telenovela no Brasil, falou com a coluna GENTE sobre o novo panorama de audiência da TV aberta e, em especial, da ainda líder TV Globo, que acaba de completar 60 anos. Se um dia, uma novela alcançou 100 pontos – feito de Selva de Pedra (1972) – o mesmo provavelmente nunca mais será repetido. A título de comparação, o  remake de Vale Tudo, esperança da emissora para engajar o público nos 60 anos da empresa, tem mantido média de 22 pontos em São Paulo nas primeiras semanas de exibição. No mesmo período, Mania de você tinha 21,5. Já Renascer, outro remake, contabilizava 25,7.

MONOPÓLIO DA TV GLOBO. “Hoje não existe mais monopólio da comunicação, coisa que a Globo viveu nos anos 70, 80, 90, 2000, até Avenida Brasil, em 2013, e ponto. Por quê? Porque dentro da quarta revolução industrial, que a gente vive hoje, com a sociedade pulverizada, com um consumo pulverizado, plataformas pulando por aí, há inúmeras maneiras de você assistir à TV. O streaming chegou com força total. É humanamente impossível hoje pensar em monopólio. A comunicação de massa não existe mais. Era impossível ter Beleza Fatal (novela da Max) em outros tempos, porque não tinha outra empresa com o poderio da TV Globo. Quem conseguiria montar um elenco com Giovana Antonelli, Camila Queiroz e Camila Pitanga? Impossível”.

AUDIÊNCIA NOBRE. “Vale Tudo, por exemplo, uma história que já foi contada, recontada, trecontada, que está em DVD, que está no Globoplay… As pessoas têm Vale Tudo original (de 1988) na hora que elas quiserem. Agora, nesse mundo fragmentado, pulverizado, essa audiência é streaming, é cinema, é teatro. Os jovens veem um monte de coisa ao mesmo tempo. Você acha que vai ter uma audiência massiva? É claro que não”.

VINTE E POUCOS PONTOS. “Glória Maria, quando me entrevistou para o Globo Repórter, já naquela época ficou espantada, falou assim: ‘Mas como que é isso? Você fica sentado no sofá vendo a novela?’. Ou seja, a pessoa vê no TikTok, vê uma cena aqui, vê um capítulo lá, mas não acompanha a novela todos os dias. Hoje o que a telenovela alcança é isso aí que tem marcado. É a audiência que vem sendo apresentada nas últimas novelas. Não adianta mais investir milhões. Isso é uma realidade histórica diante das redes sociais e streaming”.

NOVOS AUTORES. “Beleza Fatal foi um sucesso. Raphael Montes não só de um autor novo, como um autor que vende literatura. Ele traz uma estrutura de composição de personagem e teve junto a ele um dos papas da telenovela, Silvio de Abreu. Uniu-se a tradição com o jovem. Com todo respeito aos autores, é importante ter essa composição, onde o bom resultado torna-se mais viável”.

ONDA DE REMAKES. “Nada é infalível. João Emanuel Carneiro ficou traumatizado com a última novela (Mania de você), Glória Perez saiu da emissora… " E não é para menos. Não aprecio o remake, a não ser que a obra não exista mais, que se perdeu, foi para a fogueira. Mas se a empresa resolve fazer aquilo, tudo bem, sou a favor da indústria brasileira. Só que a indústria nacional está perdendo o campo no mercado estrangeiro, onde a novela turca e o dorama entraram fortes”.

Por Giovanna Fraguito 

Atualizado em 28 abr 2025, 14h45 - Publicado em 28 abr 2025, 12h00

Leia também: Nos 60 anos da TV Globo, cinco novelas imperdíveis e cinco para esquecer

Leia também: O rico material perdido pela Globo em incêndio de 1976 nos estúdios


terça-feira, 15 de abril de 2025

Lembra do carro dos 'Jetsons'? Ele já existe e custa uma fortuna

 

Jetson One já obteve aprovação oficial de autoridades italianas para fazer viagens não tripuladas 
Imagem: Reprodução

Um evento de aviação na Itália trouxe um modelo bastante curioso e interessante aos olhos do público. Ele é o Jetson One, um veículo elétrico de decolagem vertical pessoal e que tem como chamariz o fato de não requerer nenhum tipo de licença normal de piloto de aeronave para ser operado.

Como é o veículo

O Jetson One quer transformar a aeronave em veículo pessoal. Trata-se de um movimento contrário ao de empresas nos últimos tempos, que querem transformar aeronaves deste tipo em táxis.

O veículo inclusive tem preço: US$ 128 mil (cerca de R$ 751 mil na cotação atual). Porém, já está esgotado, tanto para 2024 quanto para 2025… - Veja mais em https://www.uol.com.br/carros/noticias/redacao/2025/04/15/lembra-do-carro-dos-jetsons-ele-ja-existe-e-custa-fortuna-veja-detalhes.htm?cmpid=copiaecola

O Jetson One já obteve aprovação oficial de autoridades italianas para fazer viagens não tripuladas. Isso é feito via controle remoto, desde 2023.




O Aero Club d'Italia emitiu a certificação de registro do Jetson One como uma aeronave de decolagem e pouso verticais ultraleve. No momento ela ainda é testada em voos não tripulados em um espaço controlado.

O modelo também voou nos EUA em um teste realizado pelo fundador da Jetson, Tomasz Patan. Ele pretende abrir uma sede nos EUA, com o rapper Will.i.am como embaixador da marca após ter adquirido um modelo.

Carros Mobilidade 


Daniel Portillo Serrano

Carro dos Jetsons? aquele que quando chegava no escritório se transformava numa mala e o George levava ele na mão para dentro? não me parece que este "carro" faça isso. Na verdade não vi nada parecido com o carro dos Jetsons.

Luiz Rodrigues Barbosa

Por enquanto, esses veículos são muito barulhentos e imagino o estrago feito por esses rotores, se desgovernado ou em aterrisagem forçada, entrasse no meio de uma multidão!

quinta-feira, 3 de abril de 2025

'Vale Tudo'? Jovens estão trocando a televisão pelos creators do TikTok

'Vale Tudo'? Jovens estão trocando a televisão pelos creators do TikTok

    Odete Roitman (Debora Bloch) em 'Vale Tudo': novela é aposta da TV Globo, mas público     jovem está mais nas redes sociais Imagem: Reprodução/Globo

Esqueça aquele filme de cinema, ou o episódio super bem produzido da série do momento. Ou mesmo o mais novo lançamento da TV Globo, a novela "Vale Tudo". Os mais jovens, hoje, preferem conteúdos audiovisuais de curta duração dos criadores e influenciadores que estão no TikTok, Instagram e YouTube. É o que aponta a pesquisa anual Digital Media Trends da Deloitte, divulgada recentemente —para desespero de Hollywood e dos canais de televisão tradicionais.

"Enquanto os estúdios e os provedores de streaming estão ocupados competindo entre si, uma ameaça mais acirrada vem das plataformas de vídeo social que são hiperescaláveis e hipercapitalizadas", diz o texto, assinado por seis pesquisadores.

Segundo o estudo, 56% dos jovens da Geração Z (nascidos entre 1996 e 2010) e 49% dos Millennials (entre 1981 e 1996) afirmaram que os conteúdos das redes sociais são mais relevantes do que os da TV tradicional ou do cinema, além de sentirem uma conexão mais forte com os criadores —os creators e influencers, como são mais chamados— do que com apresentadores e atores.

Os dados são relativos aos Estados Unidos, mas, mesmo considerando as particularidades entre as culturas e economias, podemos ver algo semelhante ocorrendo no Brasil.


Norte-americanos consomem cerca de seis horas de mídia por dia, em média. Desse tempo, cerca de 1,4 hora é gasta com streaming, enquanto outra 1,4 hora é utilizada para assistir TV linear por cabo ou internet. Apenas 54 minutos ficam com as redes sociais.

Porém, quando analisamos o recorte geracional, a diferença no consumo de mídia fica evidente, revelando uma outra preferência. A Geração Z passa mais tempo consumindo conteúdo (6,9 horas diárias), mas dedica menos tempo ao streaming (1,3 hora) e à TV (0,8 hora, ou48 minutos), enquanto o uso de redes sociais sobe para 1,4 hora (84 minutos). Já os Millennials, atualmente na faixa dos 30 e 40 anos, consomem 6,3 horas diárias de mídia, com uma hora e meia de streaming, 54 minutos de TV e 1,1 hora (66 minutos) em apps como Instagram e TikTok.

"Olhando para todas as gerações, as preferências entre os entrevistados parecem estar mudando da TV paga para serviços de streaming de vídeo, plataformas de vídeo social e jogos", afirma a Deloitte. A conclusão não é surpreendente, mas tangibilizar em números revela o ritmo dessa migração.

Streaming mais caro

Mesmo liderando sobre os concorrentes tradicionais, o streaming enfrenta desafios. Segundo o estudo, 41% dos consumidores consideram o conteúdo caro para o que oferece. Além disso, 47% acham que gastam demais com serviços do tipo. O valor total médio das assinaturas subiu de US$ 61 (R$ 346, na cotação atual) para US$ 69 (R$ 392) por mês, refletindo o impacto da inflação no orçamento dos norte-americanos.

     Mr. Beast (Jimmy Donaldson), dono do maior canal do YouTube: relevância fez com que o Amazon Prime Video  contratasse o creator   Imagem: Reprodução/YouTube

O aumento de preços é reflexo não só dos custos crescentes de produção, mas também da cobrança dos investidores. Para o pessoal de Wall Street, Netflix e os grandes grupos de mídia investiram pesado em produções próprias e agora precisam equilibrar o caixa. Para compensar esse cenário e aumentar receitas, as empresas lançaram opções com anúncios, mais baratas, mas o impacto no bolso —ao menos entre aqueles ouvidos pela Deloitte— foi limitado.

Outra pesquisa da Deloitte, publicada em novembro passado, já apontava essa tendência:os consumidores tendem a reduzir o número de assinaturas, o que pode levar à estagnação ou até mesmo à retração do mercado de streaming. Para reagir, os conglomerados devem ampliar ainda mais a oferta de pacotes combinados, como planos que incluem internet e serviços como Globoplay ou Netflix, ou ainda combos que reúnem várias plataformas por um único preço.

Redes sociais atacam

Em paralelo, cresce o consumo de conteúdo gerado pelo usuário ou por novos atores da indústria em apps como TikTok, Instagram, Facebook, Kwai e outros. Há dois fatores que contribuem para isso.

O primeiro é a forma como esses meios foram pensados. O conteúdo curto, exibido em um feed de rolagem infinita eselecionado por algoritmos, estimula a liberação de dopamina no cérebro. Esse neurotransmissor, ao atingir o córtex pré-frontal, gera a sensação de prazer. A conclusão vem de um estudo da Universidade Zhejiang, na China, publicado em 2022 na revista NeuroImage.

Já o segundo é explicado pela própria Deloitte: "Os criadores [da internet] trabalham para si mesmos, as plataformas têm opções de como incentivá-los, e o público obtém o conteúdo gratuitamente a partir de algoritmos projetados para atenção e engajamento. As plataformas sociais estão estendendo ferramentas de IA generativas para ajudar os criadores a administrar seus negócios, criar conteúdo, atingir públicos e anunciantes e combinar com patrocinadores de marca".

Dessa forma, nasce um ecossistema relativamente barato, com público engajado e alcance de milhões, criando conexões rapidamente. Mais do que isso: não há ponto de saída, já que o espectador pode passar horas assistindo a vídeos curtos, sem se interessar por outras mídias.

Estúdios e canais contra-atacam?

Os números confirmam a migração do público para formatos digitais mais curtos, o que coloca pressão nas mídias de formato longo.

Nos EUA, a receita do cinema caiu 11% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024, apesar do aumento no número de lançamentos neste ano, após o impacto da greve de Hollywood em 2023. Os dados são da Comscore.

Já no Brasil, a TV aberta registra queda contínua de audiência, acompanhando a tendência global. "Vale Tudo", grande aposta da Globo para o horário das 21h —incluindo com uma grande campanha publicitária, que começou a meses— teve a segunda pior estreia de uma novela do horário em toda a história. O primeiro capítulo obteve uma média de 24,1 pontos, ficando à frente apenas de sua antecessora, "Mania de Você".

Parte dos espectadores provavelmente agora está no Globoplay, mas uma faixa relevante dos mais jovens está na prática direcionando seus olhos para a tela do celular.

"Todos eles estão competindo por uma parte dessas seis horas de entretenimento diário. Isso aguça o novo cenário competitivo: os estúdios tradicionais enfrentam novos concorrentes que são muito maiores do que quase todos os estúdios tradicionais de TV e cinema combinados. As principais plataformas de vídeo social medem suas audiências globais e as horas de vídeo visualizadas a cada dia em bilhões. E elas dominam a publicidade global. Se os estúdios ainda não abraçaram essa nova realidade, eles enfrentam um imperativo de mudança: o engajamento com essas plataformas está corroendo o tempo gasto em streaming de TV e filmes." 

Deloitte, na pesquisa 2025 Digital Media Trends

Para a Deloitte, a resposta passa em um investimento ainda mais pesado da chamada mídia legada, principalmente por meio de grandes franquias e propriedades intelectuais pré-estabelecidas. O fato é que já estão fazendo isso —o remake de "Vale Tudo", novamente, é um grande exemplo nacional—, mas muitas vezes sem o sucesso imaginado.

    Produtos como a CazéTV, com esportes ao vivo e ancorados em influenciadores, também     aumentam a competição pela atenção do espectador Imagem: Divulgação/Livemode

A empresa de pesquisas vai além: como a tecnologia publicitária e a IA agora estão no centro da economia do entretenimento, isso exige que estúdios invistam para tornar a publicidade mais eficiente e acessível. Para ampliar audiências e competir nesse novo cenário, fusões, aquisições e parcerias estratégicas serão essenciais.

Algumas recomendações do estudo geram debate, como o uso de IA generativa para dublagem e tradução, além de softwares para otimizar operações. Outras são mais óbvias, como a necessidade de estar presente nas redes sociais — aproveitando influenciadores para alcançar o público jovem por meio de recomendações ou adotando formatos curtos para construir narrativas e engajar audiência.

Netflix é ponto fora da curva

Contudo, o estudo perde um ponto importante: a experiência da Netflix.

A pioneira do setor se destaca, especialmente entre o público jovem. Segundo dados de fevereiro da Kantar Ibope relativos ao Brasil, considerando todos os dispositivos (incluindo celulares), seu share de audiência é de 4,3%. Embora fique atrás do TikTok (4,5%) e do YouTube (19,4%), supera todos os serviços de streaming por assinatura e já tem mais da metade da audiência da TV paga, que soma 8%.

Em parte, isso ocorre porque a Netflix segue há anos parte da cartilha que agora a Deloitte sugere. Mas também porque, ainda antes das redes sociais adotarem a atual abordagem, a companhiaestava empenhada em formar um novo público infantil, seja por meio de lançamentos, engajamento com os pais ou pela praticidade da tecnologia.

São essas crianças e bebês de dez, 15 anos atrás que, atualmente, fazem produções como "Wandinha", "Stranger Things" e outras virarem sucessos culturais —que retroalimentam a internet, criando um ciclo.

Até porque, mesmo em um mundo tão dinâmico e desafiador, uma verdade segue absoluta: quem planta, colhe. O que, afinal, os estúdios e canais tradicionais estão plantando?

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Mauro Naves 'quer tirar o pé' na TV: 'Aposentar não sei se mulher aguenta'


Mauro Naves será comentarista do programa Galvão e Amigos Imagem: Thiago Duran/BrazilNews

Mauro Naves 'quer tirar o pé' na TV: 'Aposentar não sei se mulher aguenta'

Péterson NevesDe Splash, em São Paulo 02/04/2025 05h30

Mauro Naves, 65, é um dos reforços da Band para integrar o elenco do Galvão e Amigos. Após mais de 30 anos como repórter da Globo, o jornalista deixou as ruas para se tornar comentarista esportivo nos canais Fox Sports e ESPN como um movimento de "frear" a rotina puxada na TV. Feliz em voltar a trabalhar com o amigo Galvão Bueno, ele se diz aberto a novos desafios, mas a ideia é "aproveitar a família".

"Estou muito feliz com essa oportunidade. Foi convite do Galvão. Falei: Quero trabalhar menos. Passei 30 e tantos anos viajando. Não acompanhei crescimento de filhos'... Fui perdendo aniversários, casamento, churrasco em família. Então, cheguei a uma idade que quero tirar o pé e aproveitar um pouco tudo isso."

Mauro Naves, em entrevista no lançamento do Galvão e Amigos.

Naves já vinha reduzindo o ritmo e, agora, terá que conciliar esse desejo com o convite novo, que deve acelerá-lo um pouco novamente. "Vivo um momento meio querendo, não vou dizer aposentar por que não sei se minha mulher ia me aguentar o tempo todo em casa, mas criar alguma coisa para fazer, sair de vez em quando. Estou tirando o pé, mas o programa dá uma energia nova"

Galvão Bueno terá Casagrande e Mauro Naves no elenco fixo do Galvão e Amigos
Imagem: Thiago Duran/BrazilNews

"Estou mais velho que o Galvão"

Após fechar com a Amazon Prime, Mauro Naves foi procurado novamente por Galvão Bueno para saber se topava embarcar no desafio novo na Band. "Ele me disse: 'tem uma novidade. Estou conversando lá na Band para ter mais um programa'... Eu falei: 'Ah, está bom. Quantas vezes por semana esse programa, Galvão?'. Por quê? Daqui a pouco, ele fecha algo com o Denis [Gavazzi, diretor de esporte da Band] e me ocupa a semana inteira".

Estou querendo tirar o pé. Galvão está voando. A primeira coisa que falei para ele no jantar quando foi falar do programa foi: 'Galvão, você está com esse pique todo ainda?', e ele: 'Claro, claro. Estou menino'. Eu não estou, já estou mais velho que o Galvão. Estou querendo um pouco mais de tempo para a família, para mim e o Galvão realmente está numa fase de muita vontade de fazer as coisas ainda.

Naves não será somente comentarista esportivo no Galvão e Amigos. Ele já está definido como substituto oficial caso o apresentador não tenha como cumprir a agenda. "Espero que o Galvão não falte", brinca o jornalista.


                       Mauro Naves é reforço da Band para programa de Galvão Bueno
                       Imagem: Thiago Duran/BrazilNews

segunda-feira, 31 de março de 2025

 

A telenovela está em crise e vai acabar ou o tradicional gênero ainda tem fôlego?

 

A telenovela está em crise e vai acabar ou o tradicional gênero ainda tem fôlego?

Fracassos em tramas originais como "Mania de você", investimento em reprises e remakes de sucessos do passado como "Vale tudo" e o êxito de produções em novo formato para o streaming como "Beleza fatal" acendem debate sobre o futuro da novela

                                      O futuro das telenovelas - (crédito: kleber sasless)
Se você perguntar a um estrangeiro quais são as referências que ele tem do Brasil, a resposta passará por três símbolos: carnaval, futebol e novela. Essa última, há mais de 60 anos faz parte dos hábitos dos brasileiros, sendo considerada o produto de maior audiência e repercussão da televisão, não somente no consumo interno, mas também no mercado internacional.

Paixão avassaladora, os folhetins criados pelo que o produtor Daniel Filho denominou de "circo eletrônico" eram capazes de reunir famílias na frente da tevê até mesmo na noite de Natal — como ocorreu quando a vilã Odete Roitman, de Vale tudo, foi assassinada em 24 de dezembro de 1988 — e abastecer discussões acaloradas em salões de beleza, mesas de bar e, agora, na internet. Com a popularização das redes sociais e do streaming — frutos diretos dos tempos modernos —, porém, o gênero tem passado por transformações que colocam em xeque a sua popularidade.

No passado, títulos como Vale tudo — que retorna, nesta segunda-feira (31/3), 37 anos depois, como remake —, A próxima vítima (1995) e Avenida Brasil (2012) não somente pararam o Brasil nas exibições de seus últimos capítulos, como percorreram o mundo, levando o nome e a cultura do nosso país para territórios diversos e fazendo com que a nossa teledramaturgia se tornasse um modelo a ser seguido. 

Regina Duarte e Glória Pires em Vale Tudo 1988
Regina Duarte e Gloria Pires em cena de "Vale tudo", em 1988(foto: Bazilio Calazans/Memória/Globo)

Cheiro de naftalina

No entanto, após a pandemia, o público passou a rejeitar os novos títulos produzidos pela tevê aberta — em especial pela Globo. Não por acaso, o canal aposta não somente em reprises de obras que fizeram grande sucesso — como Tieta, de 1989, em cartaz no programa Vale a pena ver de novo, que será substituída por A viagem, de 1994 —, mas também em remakes — como Pantanal, da extinta Manchete; e Renascer, da própria Globo.

A primeira trouxe resultados positivos, mas o efeito não foi o mesmo com a segunda. Agora, com o fracasso registrado em Mania de você — trama original que sucedeu Renascer e antecedeu Vale tudo —, a releitura daquela que a opinião especializada chama de "a novela das novelas" divide opiniões: a solução para a crise no gênero está no investimento em histórias já contadas?

Análise: por que “Mania de você” se despede sem deixar saudades

Para Mauro Alencar, consultor e doutor em Teledramaturgia pela Universidade de São Paulo (USP), raras são as produções que realmente encantaram. "Uma produção audiovisual é o retrato fidedigno de um tempo, de um espaço, de uma construção em conjunto entre autor, diretor, produção e, meu Deus!, dos atores! É a atriz, o ator quem irão nos encantar e nos seduzir para acompanhar a trama e guardá-la em nosso subconsciente", avalia o autor do livro A Hollywood Brasileira — Panorama da telenovela no Brasil (Senac Rio, 176 páginas).

Mas, de acordo com Amauri Soares, diretor-executivo dos Estúdios Globo, da TV Globo e das Afiliadas, recontar histórias faz parte de todo o mundo: "As histórias clássicas são aquelas que resistem ao tempo. Vale tudo é um clássico da telenovela. Em 1988, teve a primeira versão; nós estamos fazendo uma nova versão hoje; e eu imagino que, daqui a 30 anos, uma nova geração de profissionais da televisão fará uma nova versão. Porque faz parte da contação da história".

Autora escolhida para adaptar Vale tudo — uma obra de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères—, Manuela Dias endossa a teoria. "As histórias que não foram recontadas nós nem conhecemos. Os remakes provocam encontros de gerações, de pessoas que viram com pessoas que não viram (a novela), e fazem a gente se repensar como sociedade", defende a criadora da exitosa antologia Justiça e da popular novela Amor de mãe.

Cena da novela Pantanal Juma ( Alanis Guillen )
Em 2002, a Globo fez o exitoso remake de "Pantanal", um grande sucesso da TV Manchete de 1990 (foto: João Miguel Junior/ TV Globo)

Geração TikTok

Mauro Alencar explica que, "em plena Quarta Revolução Industrial, em que reina a cultura da virtualidade real", não dá mais para considerar a telenovela como uma paixão nacional. "Em uma era em que a cultura está fragmentada e diluída (o tal mundo líquido moderno na compreensão precisa do sociólogo Zygmunt Bauman), é praticamente impossível que você tenha um produto cultural como paixão nacional. As paixões é que se pulverizaram também, e cada grupo vai encontrando o que melhor completa os seus desejos conscientes ou não, mas tendo a teledramaturgia como grande catalisadora", ressalta o especialista.

Se na tevê aberta a novela parece saturada, o mesmo não se pode dizer do streaming. Escrita pelo estreante no gênero Raphael Montes, de 34 anos, com supervisão do veterano Silvio de Abreu, 82, a original Beleza fatal uniu inovação e tradição, marcando a entrada triunfal da gigante Max (por meio da parceria Warner Bros. Discovery) no segmento, com resultados bem-sucedidos não apenas na audiência como também na popularidade, — com o frisson pelo último capítulo que não se via desde Avenida Brasil.

Na avaliação da vice-presidente de Conteúdo da WBD no Brasil, Mônica Pimentel, o melodrama — essência de um bom folhetim — tem potencial duradouro, mas deve ser reimaginado para o público atual. "O melodrama, por sua essência, sempre terá potencial para se conectar com o público, devido às suas características fundamentais de emoção e identificação. No entanto, para que esse gênero se mantenha relevante, é crucial adaptá-lo às novas realidades contemporâneas", afirma a executiva, que tem na manga, totalmente produzida, a releitura de Dona Beja, exibida originalmente pela Manchete em 1986, ainda sem data para estrear. Ambos os títulos possuem o mesmo formato: apenas 40 capítulos. 

Raphael Montes reforça que, há alguns anos, fala-se que é o fim da novela, mas o brasileiro ainda quer assisti-la — e comentá-la. "Acredito em uma mudança na maneira de fazer e de assistir, no tamanho dos capítulos, e no sentido de que os autores devem olhar para o público atual, já que estamos em uma geração TikTok", argumenta o escritor. "Eu percebo isso pelo que chega a mim por mensagens nas redes sociais e também por dados que me foram passados. Mas é importante frisar que o padrão de audiência do passado não é o mesmo. Não dá mais para comparar com os tempos áureos. Mas, sim, Beleza fatal provou que o brasileiro ainda quer novela", acrescenta.

Camila Pitanga tem retorno triunfal às telenovelas com Beleza fatal
A vilã carismática Lola (Camila Pitanga), de "Beleza fatal", se tornou a queridinha das redes sociais(foto: Divulgação/Max)

 "O gênero ou formato (a depender da corrente teórica) telenovela vem falhando na falta de sintonia com o consumidor desta Quarta Revolução Industrial. Daí o sucesso extraordinário de Beleza fatal. A produção, porém, seria uma novela para ser exibida às 22h ou 23h e, mesmo assim, com cortes nas cenas mais ousadas sexualmente. Mas acredito que se fosse bem trabalhada para a sua exibição e em uma empresa organizada e com tradição em telenovela, sim, poderia fazer sucesso, talvez não tão alarmante como no streaming", salienta Mauro Alencar.

Essa tendência não é ignorada pela tevê aberta. A Globo, por exemplo, por meio da plataforma Globoplay, que nasceu para disponibilizar seu acervo histórico ao estilo Netflix, também investe no formato para novas novelas — antes mesmo das gigantes internacionais, inclusive, com títulos bem-sucedidos como Verdades secretas II (2021) e Todas as flores (2022). Ainda em 2025, a plataforma lançará Guerreiros do sol, outra produção para o streaming totalmente gravada.  

Sol (Sheron menezzes) e Ben (Samuel de Assis), protagonistas de Vai na fé
A original "Vai na fé" foi o último grande sucesso da Globo (foto: Globo/Divulgação)

Para mais 100 anos

O diretor-executivo da Globo, Amauri Soares, pontua que a telenovela é um gênero tradicional, que nasceu no rádio, mas tem todas as características do conteúdo digital do presente e do futuro. "É um gênero que se reinventou e que se mostra muito moderno. O nosso dever é encontrar as histórias adequadas para o dia de hoje, que caibam nesse formato, mas eu não tenho dúvida que (o gênero) está aí para mais 100 anos", aposta.

Rosane Svartman, que escreveu o livro A telenovela e o futuro da televisão brasileira (Cobogó, 248 páginas), como desdobramento de uma tese de doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF), também defende a longevidade do gênero. "Não há crise, mas oportunidade. Tanto que o melodrama migrou para o streaming com muito êxito. É recente e transformador", conclui a autora de Vai na fé (2023), considerado o último grande sucesso do gênero na tevê aberta, e de Dona de mim, aposta da Globo para o horário das 19h a partir de abril.

Entrevista | Mauro Alencar

Consultor e doutor em Teledramaturgia pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de A Hollywood Brasileira — Panorama da telenovela no Brasil (Senac Rio, 176 páginas) e  da biografia Susana Vieira: Senhora do meu destino 

Para começar, a telenovela ainda pode ser considerada uma paixão nacional?

Do ponto de vista da formação social do Brasil, incluindo a criação de uma identidade nacional e do inconsciente coletivo, sim. O que quero dizer com isso: a telenovela faz parte do constructo nacional como o carnaval e o futebol (independentemente dos resultados, por exemplo, da seleção brasileira). Tomo, portanto, por base, os conceitos de antropologia cultural e sociologia. Particularmente, a primeira ciência, pois por meio da telenovela compreendemos como se formou a cultura do Brasil e da América Latina como um todo: os hábitos, costumes, valores, religião, culinária e a História de maneira mais ampla. Não por acaso, se a Europa, mais especificamente, a Inglaterra respira teatro, o Brasil respira telenovela, pois a telenovela é uma invenção da América Latina. Entretanto, em termos de consumo dentro da indústria cultural e do entretenimento, não mais, pelo fato de que estamos em plena era da Quarta Revolução Industrial onde reina a cultura da virtualidade real. Desse modo, ao mesmo tempo em que assistimos cada vez mais a integração da comunicação eletrônica, o avanço das redes sociais, das comunidades virtuais, do mundo globalizado, enfim, observamos o fim da audiência de massa. E era essa audiência que fazia da telenovela uma “paixão nacional”. Lembremos que hoje o mundo da teledramaturgia (novelas e séries) está ao nosso alcance, com qualidade e variedade. Também não existe mais a idolatria aos atores como se via em décadas passadas, nem mesmo acompanhamos a trajetória e o estilo dos autores de telenovela. Relação arte – plateia/ público/ audiência que vinha dos tempos da radionovela nas décadas de 1940 e 1950 e que migraram com muito mais força para a televisão. Do mesmo modo, os diretores também não são mais endeusados como víamos em outros tempos. Isso não quer dizer que a telenovela deixou de ser importante para a economia criativa. Muito pelo contrário, ela segue como um dos principais produtos culturais, mesmo que não tenha a relevância psicossocial de outrora. Haja vista o sucesso explosivo de Beleza fatal no streaming. Uma grata e necessária surpresa! Sintetizando: numa era onde a cultura está fragmentada e diluída (o tal mundo líquido moderno na compreensão precisa do sociólogo Zygmunt Bauman), é praticamente impossível que você tenha um produto cultural como “paixão nacional”, ainda que tenha uma abrangência extraordinária tanto na televisão aberta quanto em plataformas digitais. As paixões é que se pulverizaram também e cada grupo vai encontrando o que melhor completa os seus desejos conscientes ou não, mas tendo a teledramaturgia como grande catalisadora.

Ao longo dos últimos 10 anos, poucas telenovelas mantiveram o sucesso que o gênero costumava manter. Após Avenida Brasil (2012), algumas produções — como Amor à vida (2013), Império (2014), Totalmente demais (2015), Eta mundo bom (2016) e A força do querer (2017) — se destacaram na década passada, mas, de 2020 para cá, tivemos uma grande queda, com apenas Pantanal (2022) — um remake —, reavivando o horário das 21h após a pandemia, e uma às 19h, Vai na fé (2023), que, até então, é considerada a melhor obra da década. Na sua opinião, onde é que o gênero telenovela vem falhando tanto?

Você acaba de confirmar o que eu respondi acima! E a última grande união do público com a telenovela foi em 2012, com Avenida Brasil. O gênero ou formato (a depender da corrente teórica) telenovela vem falhando na falta de sintonia com o consumidor desta Quarta Revolução Industrial. Daí o sucesso extraordinário da produtora Coração da Selva com Beleza fatal exibida pela Max.

Beleza fatal chegou, como uma grande aposta da Max, mostrando que ainda é possível fazer um novelão clássico. Mas, será que todo esse sucesso seria possível na tevê aberta, se ela fosse adaptada para o horário das 21h?

Certamente, Beleza fatal seria uma novela para ser exibida às 22h ou 23he, mesmo assim, com cortes nas cenas mais ousadas sexualmente. Mas acredito que se fosse bem trabalhada para a sua exibição e numa empresa organizada e com tradição em telenovela, sim, poderia fazer sucesso, talveznão tão alarmante como no streaming. De qualquer maneira, acompanho com muito entusiasmo a interação de nossas novelas (e, até o momento, Beleza fatal está em primeiríssimo lugar) com as redes sociais. Vivemos o que já havia sido preconizado por Jesús Martín Barbero, o saudoso mestre colombiano sobre os meios e suas mediações. Observo que Beleza fatal é o produto mais bem acabado de nossa nova dinâmica cultural.

Você acredita que o streaming, especialmente o Globoplay, que traz praticamente todas as novelas já produzidas pela Globo a um clique, prejudicou o que se produz para o gênero atualmente?

O que observo, escuto e leio é que essa estratégia (quem iria saber?) abriu um abismo entre passado e presente, pois as décadas de 1970, 80 e 90 foram a “época de ouro da telenovela brasileira”.

Qual é a sua opinião sobre os remakes? Essa adaptação de Vale tudo é um tiro no pé ou um grande acerto no alvo?

Particularmente não aprecio remakes de telenovela ou filmes pelos mais diversos motivos. Raras são as produções que realmente encantaram como Mulheres de areia, A viagem, A gata comeu, Pantanal (Globo) e Éramos seis (SBT). Uma produção audiovisual é o retrato fidedigno de um tempo, de um espaço, de uma construção em conjunto entre autor, diretor, produção e, meu Deus!, dos atores! É a atriz, o ator quem irá nos encantar e nos seduzir para acompanhar a trama e guardá-la em nosso subconsciente.
Sobre Vale tudo, como diria minha primeira mestra Helena Silveira (pioneira jornalista e cronista da TV), “ainda é cedo para deitar cartas na mesa”. Aguardemos a novela começar...

O que o público noveleiro 40+, de classe média, espera das novelas atuais? E como fazer para resgatar esse público?

Acredito que devemos buscar histórias, temas, personagens que dialoguem com a faixa etária muito bem observada por você. E novelas onde a produção fique atenta à época em que vivemos — tanto na forma quanto no conteúdo — aos desejos do público consumidor. Você tem o produto, a mídia para exibi-lo e público–alvo. Compreender e procurar preencher esse processo da melhor maneira possível é o dever de executivos e produtores.

E como fisgar a turma mais jovem, acostumada com a instantaneidade das mídias digitais? Beleza fatal fez isso, mas outra poderá conseguir, mesmo no streaming?

Beleza fatal já é um ícone dos novos tempos. O importante é que, dentro do mesmo processo de produção, não fique um hiato muito longo entre uma produção e outra e que procure se encontrar temas que interessem a esse grupo mais jovem dentro da dinâmica existencial em que eles vivem. O desafio dessa nossa Era é grande, mas fascinante.


sábado, 29 de março de 2025

APRENDENDO COM OS ERROS...DA GLOBO - 'Mania de Você': Como a Globo deixou uma novela tão ruim ir ao ar?

Opinião

'Mania de Você': Como a Globo deixou uma novela tão ruim ir ao ar?

     Mavi (Chay Suede) e a filha com Luma (Agatha Moreira) no final de 'Mania de Você'             
    Imagem: Reprodução/Globo

E numa sexta-feira como qualquer outra, "Mania de Você" chegou ao fim. Não houve qualquer comoção, pois as discussões sobre a novela acabaram há muitos meses -assim como a trama, que foi se arrastando sem qualquer brio até o fatídico dia 28 de março.

Já vi muitas novelas começarem de um jeito meio torto, mas quase sempre a Globo conseguiu colocar no eixo. Ou pelo menos salvaguardar alguma dignidade da área de teledramaturgia da emissora, uma das mais pulsantes da história da TV mundial.

Mas em "Mania de Você", a pior decisão era sempre a próxima. Simplesmente nada deu certo. Desde o começo, quando estreou numa semana cheia de jogos de futebol que bagunçaram a grade. Parecia um projeto fadado ao oblívio já no nascimento. Como todos nós, não é mesmo?

Em algum momento inicial, tive a sensação de que qualquer autoralidade havia se dissipado em prol de decisões que já pareciam ser de comitê. Não tenho informações de bastidores, meu trabalho é apenas assistir TV. Mas relato aqui o que senti como telespectador.

Se você vai falhar, que falhe epicamente. Quando ficou claro que tudo tinha dado errado, queria o talentoso autor João Emanuel Carneiro deixando o verbo delirar. Só que "Mania de Você" errou também por apostar na covardia. Acabrunhada, tentou captar os trêmulos sinais enviados pelo público e acho que o hipotético comitê supracitado interpretou as pesquisas da pior maneira possível.

Do núcleo principal, Rudá nunca teve função e foi descartado de um jeito patético -e depois assassinado semanas antes do final, sem qualquer reverberação relevante. Viola foi desidratada, jogada para um núcleo meio Chiquititas e depois criou uns planos de vingança que nunca fizeram sentido. Luma foi enganada por todo mundo repetidas vezes e jamais deu a volta por cima. Mércia nunca chegou a ser um personagem, era apenas uma pessoa que existia e cumpria funções do roteiro. Molina voltou dos mortos apenas porque sim.

E o que dizer do Mavi? A Globo soube que o público gostava do vilão carismático. Chay Suede arrancou elogios com seus improvisos que, na minha humilde opinião, fizeram muito mal para a novela. Ajudaram a a tirar o peso de um núcleo que deveria ser um pouco mais denso. Mas as pesquisas diziam que a audiência gostava do Mavi e curtia o humor! O que fizeram? Deixaram Mavi deprimido.

A fase do hacker tristonho coincide com a fase mais lamentável da novela. Qualquer brilho foi para as cucuias. As tramas já não faziam mais sentido. Tentaram fazer uma história do Scooby-Doo com quadros roubados, milícia russa, cachorro assassino e perseguição internacional. Não foi fácil.

    Michele (Alanis Guillen) e Daniel (Samuel de Assis)Imagem: Léo Rosário/Globo

Para não dizer que tudo em "Mania de Você" foi ruim, tivemos também algumas coisas péssimas. Destaco aqui o núcleo da Michelle, que passou meses procrastinando para tentar tirar o namorado que estava apanhando na cadeia em Portugal, onde estava preso injustamente de uma "falange" por motivos jamais explicados. O grande dilema dela era ceder ou não aos anseios amorosos pelo patrão.

Me diverti muito com essa tragédia folhetinesca, que após muito tempo de enrolação atingiu o ápice de um jeito encantador. O patrão Ricardão pagou a fiança do Corno da Falange. Ficaram os três morando sob o mesmo teto. A resolução épica para o imbróglio? O namorado percebeu que tava sobrando e fez um  mototáxi para levá-la até o amante antes que ele pegasse um avião rumo a São Paulo.

Também é imperdoável o que fizeram com a Ísis de Mariana Ximenes, que começou como uma vilã perigosa e assassina para passar o restante da novela liderando um núcleo cômico que só fazia chorar de raiva. Foi muito decepcionante, não só pela decisão criativa, mas também pelas repetições exaustivas.

Leidi (Thalita Carauta) e Berta (Eliane Giardini)Imagem: Angélica Goudinho/Globo

Apesar de tudo, a maioria dos atores conseguiu enfrentar essa tempestade de péssimas ideias com uma dignidade assombrosa. Destaco aqui os trabalhos de Eliane Giardini, Eriberto Leão e da Gabz, que tentava dar sentido a uma protagonista que foi trucidada por um roteiro incoerente. Eu ainda estou aguardando que se faça justiça pelo piloto do helicóptero que Viola sequestrou e acabou morrendo num acidente planejado por Mavi.

Até hoje é difícil de explicar a sinopse de "Mania de Você". Afinal de contas, sobre o que era essa novela? Muitas coisas foram largadas pelo caminho, como as supostas coincidências entre trajetórias de Luma e Viola, que nasceram no mesmo dia. E o arremedo de história nunca conseguiu convencer ninguém -apenas os irresponsáveis que aprovaram a exibição dessa tragédia. Como isso aconteceu é um ponto central para esse fracasso monumental.

Com uma direção cheia de takes "artísticos" e muita lens flare, "Mania de Você" também foi um exemplo brilhante da maneira como a dramaturgia da Globo atualmente parece ter vergonha de fazer novela que pareça novela. Há alguns anos, interromperam a linha evolutiva de uma linguagem televisiva criada pela própria emissora para tentar imitar série ruim da Netflix. Analisando a resposta da audiência nesse período, será que deu certo?

A Globo precisa de uma longa análise para compreender por quais razões "Mania de Você" deu tão errado. Só a competição com o streaming não é uma resposta adequada. Não vai ser fácil superar o trauma, mas às vezes é fundamental contemplar o abismo para queele pare de piscar de volta.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.

Chico Barney

Chico Barney

Entusiasta e divulgador da cultura muito popular. Escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002